Podia ser um garoto, desses muito marotos, pé de moleque. Só que menos doce. Na verdade era um quase gente, desses quase pássaros que voam, voam e quase alcançam o céu.Era acostumado a essa sua vida de temperos, um quase ser, prestes a se tornar algo. Com um pouquinho disso ele transformava rapidamente alguma coisa.
-Mexe bem essa pimenta do reino que tenho um contrato com o absolutismo francês.
E vivia, a requebrar sazons, a dançar com os alhos e a dilacerar as réstias de cebolas. Era simples assim, bastava pegar sentimentos aqui, crenças acolá. Uma saladinha dez, como ele mesmo dizia.
A vida tinha mais cores, escolhia logo o seu tom. Como o azul da música e o verde de todos os céus que ele construía. Cantava também, esse nosso garoto. E tal como nos temperos, tudo podia ser diferente depois da música.
No banheiro, verdadeiro cantor. Até os xampus, que outrora apenas tiravam sujeiras, derramavam-se em círculos graciosos pelo seu cabelo e as próprias garrafas tinham o trabalho de ensaboá-lo, em movimentos muito rítmicos.
-Um dia ainda caso com você, garrafinha de Seda.
E assim fazia, espalhando sentimentos para todos os cantos e coisas. Palavra era a própria música. Na cozinha, realizava verdadeiros rituais. Certa vez, virara um disco só pra sentir o sabor dos arranhões, no que as batatas cozidas enlouqueceram e pularam aflitas pra dentro da panela, espatifando-se e inventando o purê de batatas. Já as cenouras eram mais abertas pra novas tendências e se juntaram aos tomates, numa espécie de dança hipnótica e desgovernada.
O mundo era de várias contradições, dialética, Marx. Já ele, um garoto mesmo, dialogava, um máximo. E vivia, e vivia, até que o Senhor Tempo deu um monte de voltas, como as rodas-gigantes que ele andava nos parques da periferia. Nesses brinquedos tem dois lugares, mas o tempo tem um só caminho, o de sempre seguir em frente. Afinal, Doutor Destino nada mais era do que um inimigo do Quarteto-Fantástico e o Homem-Elástico sempre arrumava um jeito de enfrentá-lo da melhor maneira. Aprendera isso quando garoto. Hoje , mais velho, homem e provavelmente muito mais tolo que seu jeito criança de ser, vê que os gibis nunca estiveram tão certos.
Pois bem, planta que começa lá de baixo, germina e prolonga suas raízes. No caso do vegetal a água, mas desse nosso garoto, ou melhor, do recente homem da história, a vida. Faria facilmente o mundo voar, desenhando asas nas costas, espalhando Vês pelos muros à noite, cantando novos ares e flutuando em meio a tantos ouvidos.
-Esses gatunos precisam querer.
Então, vai ser como mágica. Mistério e lua cheia. As pessoas vão abrir os olhos, asas ruflando no ar. A cidade vai ser arrancada da terra e gloriosamente alcançará os céus...
-Mexe bem essa pimenta do reino que tenho um contrato com o absolutismo francês.
E vivia, a requebrar sazons, a dançar com os alhos e a dilacerar as réstias de cebolas. Era simples assim, bastava pegar sentimentos aqui, crenças acolá. Uma saladinha dez, como ele mesmo dizia.
A vida tinha mais cores, escolhia logo o seu tom. Como o azul da música e o verde de todos os céus que ele construía. Cantava também, esse nosso garoto. E tal como nos temperos, tudo podia ser diferente depois da música.
No banheiro, verdadeiro cantor. Até os xampus, que outrora apenas tiravam sujeiras, derramavam-se em círculos graciosos pelo seu cabelo e as próprias garrafas tinham o trabalho de ensaboá-lo, em movimentos muito rítmicos.
-Um dia ainda caso com você, garrafinha de Seda.
E assim fazia, espalhando sentimentos para todos os cantos e coisas. Palavra era a própria música. Na cozinha, realizava verdadeiros rituais. Certa vez, virara um disco só pra sentir o sabor dos arranhões, no que as batatas cozidas enlouqueceram e pularam aflitas pra dentro da panela, espatifando-se e inventando o purê de batatas. Já as cenouras eram mais abertas pra novas tendências e se juntaram aos tomates, numa espécie de dança hipnótica e desgovernada.
O mundo era de várias contradições, dialética, Marx. Já ele, um garoto mesmo, dialogava, um máximo. E vivia, e vivia, até que o Senhor Tempo deu um monte de voltas, como as rodas-gigantes que ele andava nos parques da periferia. Nesses brinquedos tem dois lugares, mas o tempo tem um só caminho, o de sempre seguir em frente. Afinal, Doutor Destino nada mais era do que um inimigo do Quarteto-Fantástico e o Homem-Elástico sempre arrumava um jeito de enfrentá-lo da melhor maneira. Aprendera isso quando garoto. Hoje , mais velho, homem e provavelmente muito mais tolo que seu jeito criança de ser, vê que os gibis nunca estiveram tão certos.
Pois bem, planta que começa lá de baixo, germina e prolonga suas raízes. No caso do vegetal a água, mas desse nosso garoto, ou melhor, do recente homem da história, a vida. Faria facilmente o mundo voar, desenhando asas nas costas, espalhando Vês pelos muros à noite, cantando novos ares e flutuando em meio a tantos ouvidos.
-Esses gatunos precisam querer.
Então, vai ser como mágica. Mistério e lua cheia. As pessoas vão abrir os olhos, asas ruflando no ar. A cidade vai ser arrancada da terra e gloriosamente alcançará os céus...

2 comentarios:
Só um pedaço de alguma infância. Deu saudade das revistinhas do Marcelo...hehehehe
Quais asas nos pomos nas costas para voar aos cantos da infância, que tem tantos cores?
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