O que qualquer um tem que falar é parabéns mesmo. Nada de inventar muito, é só desejar felicidades e pronto. Eu nunca gostei de aniversários. Em geral, essa data é marcada por tragédias e desgraças variadas.
Não é só o fato de ficar mais velho, o que por si já é hediondo e estarreceddor, mas também por gente que não tem nada a ver com a gente, que nunca participou (graças a Deus) de nossa vida e, muito cinicamente, solta aos seus e aos meus ouvidos:
-Você sumiu.
Como assim, sumiu? Afinal, não conversamos desde a primeira série do primário, quando você me chamava de Defunto, filho da puta, imagine o trauma que eu fiquei! Que horrível ouvir sua voz de novo, que Lúcifer o possua nos infernos! Mas eu solto:
-Ah...
-Parabéns.
-Tá...obrigado.
-Mandei um recado no seu orkut. Você não respondeu.
Tá, e eu tenho que lhe explicar que não gosto de você? Não mando nem pra minha avó, não mandaria pra você, antílope. Aliás, como me achou no orkut, meu Deus!!!
-Tchau.
E fica aquela promessa de que no ano que vem ele vai lhe ligar, vai querer falar tudo que você não quer ouvir, vai lhe mandar emails de conteúdos absolutamente duvidosos cujas entrelinhas lhe fazem lembrar àquela vergonha que ele fez você passar na infância. Porque Gordo, Magrão, Batateiro e Capa-Gato, vá lá. Agora Defunto não dá. Eu nem tinha tanta olheira assim, aliás, quando a gripe suína vai chegar à minha cidade e matar todas as pessoas que eu odeio? Resolvi desabafar com um amigo.
-Cleiton, vou ser Defunto a vida inteira!!! Ai, que tristeza!
-Não vai. Hoje você só fica mais próximo do seu futuro estado de putrefação.
-Você já teve apelido?
-Meu nome não dá margem para tanto. Sempre fui meio neutro, nem muito aqui nem muito lá. Na verdade, eu sempre quis um apelido....
-O Batateiro hoje é advogado. O Capa-Gato virou professor....ninguém os conhece pelo nome. E tem o Gordo que vai ser Gordo o resto da vida. E hoje ele é magro...
O melhor a fazer é neutralizar a situação e agir como um mediador de conflitos e recadinhos, além de fugir de tudo e de todos nesta data infernal. Já queimei o olho, já caí na cisterna, já quebrei o dente, já dormi na linha, tudo, coincidentemente, nesta data apocalíptica. Até o Hitler ordenou a invasão à Polônia, há exatos setenta anos. Ainda bem que a gente pode reescrever tudo isso, e hoje, muito longe de casa e de qualquer tentativa diabólica de parentes desagradáveis, eu gostaria de mudar os efeitos colaterais de tantos anos de tragédias variadas. Porque hoje o Caçambão da Laje não me liga, ah, ele não liga. E entendam o motivo do telefone desligado, obrigado.

1 comentario:
Interessante teu universo! O misto de sensualidade e literatura...muito bom!
Toca, cativa!
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