16.3.09

Carteiros

Como a chuva estiara um pouco, resolvi prolongar a prosa.
-A senhora não lembra o nome da batata?
-Quem me deu não disse como se chamava. E olha, que encanto!
-Mas deve ter um nome! Quem sabe tá relacionado com a cor?
-Tinha cor de batata.
-Mas é uma flor! Aquilo, minha senhora, não é uma batata....
-...e plantei a batata e ficou linda. Com um mês já havia brotado, com três já tinha essas florezinhas...
-Eu preciso ir, Dona Aurora. Quer mesmo recusar o cartão?
-Não sei porque me enviam isso. Eu não tenho dinheiro, nunca tive! Quando você muda pro sul?
-Acho que fevereiro, não sei bem. Por que?
-É que a planta já está bem grande e em breve brotam muitas batatas nas raízes e eu posso te enviar algumas...
Essa interminável conversa de cinco minutos poderia durar anos. Não respeito uma pessoa que não sabe distinguir um bulbo de planta de um tubérculo qualquer. E ficaria ali durante horas, não fosse uma frutinha que caiu na minha cabeça e chamou atenção da velha.
-Ai!
Puxei a frutinha do meu boné e ela escorregou pela minha orelha, deslizando no meu ombro e caindo livre na minha mão. Um gigantesco e suculento cocô de bem te vi.
-QUE MERDA!!!
-É mesmo!!! É ela!!!
Qual seria o sentido do tom irônico daquela velha? Quem ela pensa que era para utilizar expressões de duplo sentido comigo? Gritei e gritei forte, gritei alto que é para amaldiçoar até a quinta geração daquele bem te vi. Como um pássaro pode fazer uma coisa assim com a gente? E que merda!!! Pelo tanto que espalhou, parecia merda de elefante voador ou então de um grande Dragão-Rei.
-Deixa eu limpar o boné para você, carteiro.
Hm, que antipática. Querendo bancar a solícita depois de defamar a minha alma, condenarme a vergonha e risadas dos malditos vizinhos!
-Tá tudo bem...
E passei a manga da camisa na orelha, num instinto desesperado de limpeza e nudez, pureza e bom cheiro! Maldito passarinho!!!
-Você está sujando ainda mais, menino! Fica quieto!
Como um recém nascido se sente, quando a mãe limpa a sua bunda? Será que ele tem vergonha? Pois eu tinha vergonha e agora uma vergonha fétida, que me alastrava negra e viscosa pela manga e pelas bordas da camisa, pois tentei limpar as mangas com as bordas! Com as bordas!!!
-Toma o seu boné. Já tá limpo. Quanto a camisa, não tem jeito. Só chegando em casa pra mamãe ter mais trabalho, né?
Se o boné não tivesse ficado tão limpinho eu teria continuado aquela conversa.

4 comentarios:

Lolo dijo...

Me quedé con la duda de si las papas del mundo no encierran, quizá, una flor... ¿quién sabe? Mirá si las papas que usás para el puré encierran en sus entrañas las más hermosas y exóticas flores que hayas visto!

El resto, se resume en eso: suerte. Te cagó un "bicho feo", una mujer te limpia la gorra y se termina una conversación que, sinceramente, no estaba yendo a ningún lado, jajajajajaja.

dijo...

Né por nada, mas como a velha te irritou, ama-la-ei por toda minha eternidade...

Unknown dijo...
Este comentario ha sido eliminado por el autor.
Unknown dijo...

Tive certeza que sou o menino do ET. E da Rua Elsink me lembro bem... its five! Vc continua com seu jeito peculiar de coelho. Fico feliz que as carnes não se tornem pedras, e, como Cecília, abro a janela e me sinto completamente feliz!